Incêndios...
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Incêndios...
...ou Diabo de Fogo!
O ambiente
Gonçalo Cunha e Sá - Fotógrafo
Uma beata voa pela janela. Não tem asas.
Corta o vento com a força do impulso dos dedos do condutor.
Cai por terra como uma luzinha teimosa, a lutar pela chama.
Acaba por se extinguir no asfalto frio. Ou toma boleia do vento e multiplica-se nuns milhares de hectares. Poderosa.
O rio que passa perto esconde-se na terra ao ver tanto lume e seca.
As nuvens evaporam-se.
No céu uma boca cinza curva as extremidades para baixo num desenho triste.
O sol e a lua aproximam-se para espreitar.
Cá em baixo as pessoas, apagadas, não levantam a cabeça para os saudar.
Diabo de Fogo By Belarmino Lopes at 2008-02-26
Os dias ficam quentes e frios. A chuva cai seca. Já nem os risos das crianças se fazem ouvir.
As árvores, para quem se lembra delas, tinham muitos ramos, como janelas.
Essas janelas abrigavam muitas pinhas, tantas ou mais até que um prédio de cinquenta andares abriga famílias.
Havia extensões delas como cidades cheias de luzinhas e portas e janelas e candeeiros de rua.
Nessa altura as pessoas riam.
Os rios corriam claros e doces ao som de uma melodia.
Muitos eram os que neles se banhavam e pescavam.
Outros tantos sentavam-se a ouvir o rio passar ou a namorar à sua beira.
A alguns o rio falava.
Para quem se lembra, havia toda uma família de cores a encher o ar,
espalhando uma música límpida capaz de trazer risos e lágrimas de tão pura que era.
Para quem se lembra, havia toda uma família de animais que já cá estavam antes de nós,
com quem podíamos ter coexistido e feito por um mundo melhor.
Desses, e só de alguns, lembramos o nome na potencia de quatro rodas.
Uma parede.
Do que resta de espaço branco um rapazito desenha a ideia de uma árvore.
As pinhas são janelas.
Desenha também uma porta. Nunca viu uma árvore.
Tem de haver uma porta para se poder entrar lá para dentro, da árvore.
O contrário não faz sentido, é um desaproveitamento de espaço.
O dia nasce sem cor e a noite desce sem dia.
E o rapazito não ri.
Porque não riu nunca, porque nunca viu rir.
By Belarmino Lopes at 2008-02-26
O ambiente
Gonçalo Cunha e Sá - Fotógrafo
Uma beata voa pela janela. Não tem asas.
Corta o vento com a força do impulso dos dedos do condutor.
Cai por terra como uma luzinha teimosa, a lutar pela chama.
Acaba por se extinguir no asfalto frio. Ou toma boleia do vento e multiplica-se nuns milhares de hectares. Poderosa.
O rio que passa perto esconde-se na terra ao ver tanto lume e seca.
As nuvens evaporam-se.
No céu uma boca cinza curva as extremidades para baixo num desenho triste.
O sol e a lua aproximam-se para espreitar.
Cá em baixo as pessoas, apagadas, não levantam a cabeça para os saudar.
Diabo de Fogo By Belarmino Lopes at 2008-02-26
Os dias ficam quentes e frios. A chuva cai seca. Já nem os risos das crianças se fazem ouvir.
As árvores, para quem se lembra delas, tinham muitos ramos, como janelas.
Essas janelas abrigavam muitas pinhas, tantas ou mais até que um prédio de cinquenta andares abriga famílias.
Havia extensões delas como cidades cheias de luzinhas e portas e janelas e candeeiros de rua.
Nessa altura as pessoas riam.
Os rios corriam claros e doces ao som de uma melodia.
Muitos eram os que neles se banhavam e pescavam.
Outros tantos sentavam-se a ouvir o rio passar ou a namorar à sua beira.
A alguns o rio falava.
Para quem se lembra, havia toda uma família de cores a encher o ar,
espalhando uma música límpida capaz de trazer risos e lágrimas de tão pura que era.
Para quem se lembra, havia toda uma família de animais que já cá estavam antes de nós,
com quem podíamos ter coexistido e feito por um mundo melhor.
Desses, e só de alguns, lembramos o nome na potencia de quatro rodas.
Uma parede.
Do que resta de espaço branco um rapazito desenha a ideia de uma árvore.
As pinhas são janelas.
Desenha também uma porta. Nunca viu uma árvore.
Tem de haver uma porta para se poder entrar lá para dentro, da árvore.
O contrário não faz sentido, é um desaproveitamento de espaço.
O dia nasce sem cor e a noite desce sem dia.
E o rapazito não ri.
Porque não riu nunca, porque nunca viu rir.
By Belarmino Lopes at 2008-02-26
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